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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sobre lobas e borboletas

Quando um relacionamento chega ao fim, e a parte que sai estragada (sempre tem uma!!!), é a gente, tudo o que almejamos é um dia ficar como me sinto neste momento : vazia de amor. Não do amor que nos acompanha pra sempre, desde sempre (família, amigos, etc...). Mas do amor que a gente ofertava no relacionamento que acabou. Vazio da "nossa parte do bolo".
A mais recente paixão que tive (agora ex-paixão e curadíssima), começou quando estava assim. Não queria me envolver seriamente com ninguém, não queria me apaixonar, estava vazia deste tipo de amor, e queria continuar assim... Mas, como transar é bom e eu gosto, uma hora me enrolei...
Tudo começou planejadinho: homem feio, chato e casado (essa parte só descobri depois...). Tudo caminhava bem: a mulher dele morava no interior e ele aqui. Ele ficava por aqui durante a semana e viajava no sábado. A semana era minha, o resto não precisava. Aquele ser grandão alí, todo apaixonado, me cobrindo de atenções e eu feliz da vida com o meu não amor.
Vida que segue, o jogo virou. O sexo que não era tão bom no começo, com a intimidade ficou óóóóóteeemo. Ríamos de tudo e todos. Com a convivência, comecei a notar o senso de humor maravilhoso (e eu adoro isso nas pessoas), a inteligência, a maneira como ficava à vontade na sua presença, o nosso mal-humor (cômico), então veio a sentença: paixonite aguda.
Mas, como uma mulher pode até não notar uma pulada de cerca, mas com certeza vai notar uma paixão nos olhos do companheiro, o sonho acabou. Fizeram festinha para comemorar aniversário de casamento, aliança nova no dedo e selaram com a mudança dela do inteior pra cá. Aí não dava mais!!!!! Papel de amante-comum-com-medo-da-esposa? Não, obrigada. Terminamos da forma mais suave possível, do tipo acabou-foi-bom-vida-que-segue. Sofri um pouquinho pra dizer que tinha valido a pena e arquivei o caso.
Agora que estou com o coraçãozinho livre de novo, estou a-do-ran-do. Estou fazendo planos, traçando objetivos e cuidando mais de mim.
Sei que essas coisas de amor não acontecem em horas planejadas, que chegam sem avisar e que quando estamos bem, atraímos bons sentimentos. Igual a estória das borboletas e do jardim.
Não que seja receita de bolo, mas exitem coisas na vida que seguem uma lógica. O segredo é não se preocupar com isso, mas de verdade. A coisa fica tão natural, que ficar sozinha traz prazer, felicidade. Abre um leque de oportunidades pra fazermos um monte de coisas. É bom não ter compromisso e não precisar dar satisfações para : sair com amigas e beber demaaais; ficar horas no computador sem ter ninguém te esperando; marcar compromissos e só consultar a sua agenda; beijar quem der vontade (e tiver vontade de te beijar); simplesmente ficar sozinha quanto der na telha; assistir filme de amorzinho bonitinho e choraaaar; dormir, dormir e dormir.
Já que tudo na vida tem seu lado bom, estou curtindo horrores o lado bom de não ter compromisso. Quando a borboleta chegar, vai me pegar completa e feliz.
O sexo? Pra isso tenho um Anjo (sexuado). E acho que estamos na mesma fase do não compromisso: saímos, rimos, bebemos e transamos. Nada de ligações (ou espera delas) no dia seguinte, nada de cobrança, sem querer saber com quem cada um sai ou deixa de sair. Nada de planos conjuntos. Apenas diversão.
Aih, aih... como é boa a vida de loba...

P.S.: Qualquer semelhança com as expressões lidas nos blogs
HTP e OMEE
, não será mera coincidência. Adoro as meninas e leio diariamente os blogs, portanto,naturalmente incorporei algumas “expressões” no meu aureliozinho interior.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A mulher Selvagem (Ricardo Kelmer)

A mulher selvagem

Ela anda enjaulada, é verdade. Mas continua viva na alma das mulheres.

Sua beleza é arisca, arredia aos modismos. Ela encanta por um não-sei-quê indefinível… mas que também agride o olhar. É um tipo raro e não tem habitat definido: vive em Catmandu, mora no prédio ao lado ou se mudou ontem para Barroquinha. E não deixou o endereço. É ela, a mulher selvagem.

Em quase tudo ela é uma mulher comum: pega metrô lotado, aproveita as promoções, bota o lixo para fora e tem dia que desiste de sair porque se acha um trapo. Porém em tudo que faz exala um frescor de liberdade. E também dá arrepios: você tem a impressão que viu uma loba na espreita. Você se assusta, olha de novo… e quem está ali é a mulher doce e simpática, ajeitando dengosa o cabelo, quase uma menininha. Mas por um segundo você viu a loba, viu sim. É a mulher selvagem.

A sociedade tenta mas não pode domesticá-la, ela se esquiva das regras. Quando você pensa que capturou, escapole feito água entre os dedos. Quando pensa que finalmente a conhece, ela surpreende outra vez. Tem a alma livre e só se submete quando quer. Por isso escolhe seus parceiros entre os que cultuam a liberdade. E como os reconhece? Como toda loba, pelo cheiro, por isso é bom não abusar de perfumes. Seu movimento tem graça, o olhar destila uma sensualidade natural… mas, cuidado, não vá passando a mão. Ela é um bicho, não esqueça. Gosta de afago mas também arranha.

Repare que há sempre uma mecha teimosa de cabelo: é o espírito selvagem que sopra em sua alma a refrescante sensação de estar unida à Terra. É daí que vem sua força e beleza. E sua sabedoria instintiva. Sim, ela é sábia pois está em harmonia com os ritmos da Natureza. Por isso conhece a si mesma, sabe dos seus ciclos de crescimento e não sabota a própria felicidade. Como todo bicho ela respeita seu corpo mas nem sempre resiste às guloseimas. Riponga do mato, gabriela brejeira? Não necessariamente, a maioria vive na cidade. E há dias paquera aquele pretinho básico da vitrine. E adora dançar em noite de lua. Ah, então é uma bruxa… Talvez, ela não liga para rótulos. Sabe que a imensidão do ser não cabe nas definições.

Mulheres gostam de fazer mistério. Ela não, ela é o mistério. Por uma razão simples: a mulher selvagem sabe que a vida é uma coisa assombrosa e perfeita e viver é o mais sagrado dos rituais. Ela sente as estações e se movimenta com os ventos, rindo da chuva e chorando com os rios que morrem. Coleciona pedrinhas, fala com plantas e de uma hora para outra quer ficar só, não insista. Não, ela não é uma esotérica deslumbrada mas vive se deslumbrando: com as heroínas dos filmes, aquela livraria nova, um presente inesperado… Ela se apaixona, sonha acordada e tem insônia por amor. As injustiças do mundo a angustiam mas ela respira fundo e renova sua fé na humanidade. Luta todos os dias por seus sonhos, adormece em meio a perguntas sem respostas e desperta com o sussurro das manhãs em seu ouvido, mais um dia perfeito para celebrar o imenso mistério de estar vivo.

Ela equilibra em si cultura e natureza, movendo-se bela e poética entre os dois extremos da humana condição. Ela é rara, sim, mas não é uma aberração, um desvio evolutivo. Pelo contrário: ela é a mais arquetípica e genuína expressão da feminilidade, a eterna celebração do sagrado feminino. Ela está aí nas ruas, todos os dias. A mulher selvagem ainda sobrevive em todas as mulheres mas a maioria tem medo e a mantém enjaulada. Ela é o que todas as mulheres são, sempre foram, mas a grande maioria esqueceu.

Felizmente algumas lembraram. Foram incompreendidas, sim, mas lamberam suas feridas e encontraram o caminho de volta à sua própria natureza. Esta crônica é uma homenagem a ela, a mulher selvagem, o tipo que fascina os homens que não têm medo do feminino. Eles ficam um pouco nervosos, é verdade, quando de repente se vêem frente a frente com um espécime desses. Por isso é que às vezes sobem correndo na primeira árvore. Mas é normal. Depois eles descem, se aproximam desconfiados, trocam os cheiros e aí… Bem, aí a Natureza sabe o que faz...

Ricardo Kelmer:

Escritor, roteirista e letrista musical. Uns livros publicados, umas músicas gravadas, um seriado de humor na RedeTV. Escreve para jornais e revistas. Coordena a Oficina On-Line de Roteiro de Sitcom. Faz palestras. Mora em São Paulo-SP.